Muitas vezes deixo de escrever, não por não ter o que dizer, mas por não encontrar – nem entre leituras e escritos – as palavras que preciso naquele momento exato. Esta tolice cria um círculo vicioso: por procurar a palavra, não escrevo. Por esperar o momento, não publico. No entanto, conforta-me a persistência deste ímpeto, desta necessidade vital de dizer não-sei-o-quê, nem sei a quem. Há algo certo? Que o texto se sustente na exata medida de seu próprio corpo.
(Rita Braga)

domingo, 25 de julho de 2010

Dia do Escritor

O que se faz nesta data dedicada ao escritor?

Hoje em dia associam a Páscoa com a troca chocolates, assim como panetones e presentes já estão incorporados à ideia de Natal. Mas entre centenas de efemérides cotidianas, o dia do escritor chamou minha atenção.

Talvez as pessoas comprem mais livros... Não, claro que não! Não estamos em 15 de março – o dia do consumidor. Deve-se ler, ler e ler... Certo. Porém, o que restará para o dia do Leitor, que é dia 7 de janeiro?

Acabo de saber da data pelo Almanaque Brasil e fiquei quieta, ansiosa e instigada. Para que se inventaria isso se não para ter com os homenageados algum tipo de atitude especial?

De imediato penso que a maior alegria do escritor é ser lido; mas isso basta?

Além do mais, ai que difícil escolher: Rosa, Graciliano, Machado, Oscar Wilde, Drummond... ops! Perdoem-me se por impulso comecei a embrenhar-me no ramo dos poetas, que estão distintamente reservados para 20 de outubro.

Se alguém me explicasse de maneira clara, eu seria grata. Tudo me parece tão vago... Pergunto, por exemplo, se haverá uma data específica para as escritoras ou deverei incluir Clarice, Virgínia, Raquel e tantas outras neste simulacro masculino para tão complexa realidade?

Afinal, é tão complicado definir o que é um escritor? – Nem entro nas diferenças entre o bom e o mau escritor. Parto de uma questão mais básica: quando homenageiam “o escritor”, referem-se a autores de obras literárias ou aos responsáveis por todo e qualquer tipo de texto... Na verdade o que quero saber é se pelo menos nesta data valem aqueles “arremedos” que mantenho engasgados no limbo da gaveta. Outra dúvida é, na falta de um Rilke, hoje em dia, há alguém disposto a dizer se você é ou não é um escritor? Como é que se descobre se já pode comemorar a data ou se é melhor marcar na folhinha mais um ano de prazo para a meta, às vezes, aparentemente inalcançável. Há saída? Ou melhor, há entrada para este time? E, se há, que linha tênue é esta sobre a qual bambeiam os autores dos textos não publicados?

...

Sei que o dia de São Lucas – aquele mesmo, o evangelista – é o dia do pintor. Ainda não estou inteirada se há um padroeiro a quem se apele para ver as letras impressas num volume com capa, mesmo porque, com todo respeito a São Francisco de Salles, não dá para esquecer que o que tornou o cara famoso mesmo foi o fato de enfrentar os obstáculos escrevendo cartas.

Não sei. Realmente não sei... E nem sei se é preciso saber algo!

Enquanto isso, por garantia, não custa acender uma vela a Saramago... Nem que seja para alumiar a mesa enquanto se pega o velho caderno para voltar a escrever.

Abraços a todos.

Rita Braga

* Voltei repleta de perguntas... Para começar, ou "recomeçar", exponho um texto que acabo de enviar aos colegas do Recanto das Letras. Já era hora... e a data não poderia passar em branco. Além disso, senti vontade de mostrar em desenho algumas das pequenas belezas que gosto de retratar.