Muitas vezes deixo de escrever, não por não ter o que dizer, mas por não encontrar – nem entre leituras e escritos – as palavras que preciso naquele momento exato. Esta tolice cria um círculo vicioso: por procurar a palavra, não escrevo. Por esperar o momento, não publico. No entanto, conforta-me a persistência deste ímpeto, desta necessidade vital de dizer não-sei-o-quê, nem sei a quem. Há algo certo? Que o texto se sustente na exata medida de seu próprio corpo.
(Rita Braga)

terça-feira, 30 de julho de 2013

A narradora das neves – uma aventura no país Inuit



 Um dos fundamentos da antropologia é manter o olhar ativo como um pêndulo entre o exótico e o familiar. Assim também, literatura e arte, de modo geral, têm suas raízes entre o subjetivo e o universal. Os quadrinhos de A narradora das neves – uma aventura no país Inuit (Nemo, 2013/ Dargaud, 2012) brinda o público com uma experiência mais do que agradável.
Os autores, Béka e Marko – pseudônimos dos roteiristas franceses Bertrand Escaich e Marc Armspach – já foram premiados por outros trabalhos com o mesmo cunho de imersão cultural, e também lançaram recentemente O apanhador de nuvens – uma aventura no país Dogon (Nemo, 2013).
Como mais um exemplo da complexidade desse universo tantas vezes subestimado por educadores e leitores,  A narradora das neves pode desdobrar-se em inúmeras leituras que confrontam culturas em várias instâncias.
No contexto brasileiro é possível que o primeiro estranhamento venha a partir do termo “Inuit”. Entre nós, no uso relativamente cotidiano ou mesmo no senso comum, ainda vigora a palavra “esquimó” para distinguir esse que é um dos povos aborígenes da região do Canadá, nas proximidades do Alasca.
Além do cuidadoso desenho que já nos convida a uma viagem à parte,  na qual as nuances e cores conduzem o olhar sensível pela paisagem, a narrativa em si é uma imersão em outro ethos, outra organização política, afetiva e social. Vale lembrar que a história se passa num dos ambientes mais inóspitos do planeta e ao ver como as personagens se resolvem a cada passo ou palavra, o leitor tem alguns flashes de como a tecnologia, as regras sociais e até a percepção dos eventos mais triviais assumem singularidade.
O enredo é simples e singelo. Após a experiência de ouvir um viajante que trazia as histórias de outros clãs, a jovem Buniq desafia seu avô – o velho Unioq que naquele momento se preparava para a morte – a acompanhá-la em uma última aventura; ela também quer ser uma contadora de histórias, mas para isso precisará provar que já pode ser responsável pela transmissão dos saberes, dos acontecimentos e símbolos que marcam essas comunidades tão distantes. Na leitura atenta descobrimos temas existenciais sob a perspectiva dentro daquele grupo: como nascer, como crescer, o que é se apaixonar e até o mistério de acreditar em algo ou de simplesmente reconhecer quais são os verdadeiros limites da vida naquele mundo de gelo.
Se é preciso apurar o olhar para enxergar a diversidade de tons e texturas da neve, o livro de Béka  e Marko também nos oferece um ponto pouco conhecido de referência cultural que nos orienta e localiza no mundo.

São Paulo, 25 de julho de 2013.
R. B.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O que está e ao mesmo tempo não está nos livros


Umberto Eco disse que “ler nos ensina a não acreditar nos livros”. A frase chama atenção porque cutuca o tabu da sacralidade do livro com uma verdade paradoxal e explícita. Não é raro ouvir discursos nos quais o suporte ou a tecnologia em si encerra uma garantia de valor ou certeza.
Historicamente, leituras unívocas foram motivo de guerras, injustiças e atrocidades. Por mais que os discursos dominantes também sejam um fato, sempre há espaço para novas reflexões a respeito da leitura como um fenômeno essencialmente humano que, por essa condição existencial, também se transforma no tempo, no espaço, nas tecnologias e até na fisiologia, como se tem notado nos leitores da Era Digital. 
O ato de ler, de modo geral, não deixa marcas. Os registros e comentários gerados por uma leitura são uma parcela ínfima das possibilidades interpretativas do texto. Lemos o objeto livro (ou qualquer outro suporte) com suas nuances, contextos e referências entrelaçadas às inúmeras relações subjetivas que o triângulo leitor-livro-autor pode abarcar. 
A leitura é um ato paradoxal por excelência. Ela precede e ultrapassa o texto, seja pelas experiências que desencadearam a escrita, seja pelos desdobramentos que ela ativa no pensamento do leitor. 
No cotidiano do trabalho educativo, o senso comum vem constantemente à tona. Muitas vezes ouço estudantes (e até educadores) identificando a escrita como “uma forma de comunicação”. Já a leitura, conforme as pesquisas do IPL (Instituto Pró-Livro) apontam, costuma ser citada mais frequentemente como “uma forma de estudo”. Há nesses enunciados uma “passividade” atribuída à leitura. Isso nos leva a pensar que o evidente reconhecimento da escrita como ato criativo, no qual o autor se expõe, não costuma ser sequer correlacionado quando o foco é transferido para a outra parte do mesmo processo. Mas será que ler é apenas “receber” o que o outro produziu?
Basta pensar um segundo para notar que o caráter criativo da leitura como produção de sentido é inegável. Mas por que tanta gente “demora” esse segundo para pensar? Talvez essa percepção resulte da especificidade da leitura em nosso tempo. Trata-se de um tema que requer outro tipo de olhar, inclusive exigindo do leitor sua presença como leitor-observador de si mesmo, em um discurso íntimo que corre paralelamente ao texto. Somente cada leitor, em sua subjetividade, pode afirmar ou não sua aceitação diante das opiniões escritas; somente ele pode descrever seus caminhos, seus insights, suas dúvidas e divagações.
Acontece, é claro, de alguém comentar o que ouviu de outro leitor como, aliás, eu fiz aqui ao iniciar esse texto. Entramos no labirinto da “leitura da leitura”, cientes de que estamos cercados pelo abismo intransponível da subjetividade a cada interpretação.

Ler, tanto quanto escrever ou qualquer outro meio, é uma forma de comunicação na qual o sujeito vai em direção ao outro, mas sem abrir mão de olhar para si mesmo. Nem sempre são nítidos os limites entre emissor e receptor. 
Ao falar dos livros que lemos, de como lemos (ou não lemos), tentamos, de alguma maneira, cavar o espaço invisível das entrelinhas alheias para encontrar algo nosso. É ser um arqueólogo em busca de artefatos produzidos por um outro, na maior parte das vezes, inalcançável. Somos obrigados a lidar com cacos, resquícios, fragmentos...  Ler é lidar com esses flashes, construir essas pontes.
Em ideia, ou mesmo na pessoa que escreve, o leitor é um ilustre e complexo sujeito. É o verdadeiro responsável por dar existência e sentido aos livros, embora nem sempre ele reconheça seu imenso poder criador. 


domingo, 9 de dezembro de 2012

Do fundo da bolsa amarela



Por um momento até eu me pergunto: por onde andei?

Eu sei que andei ocupada com o trabalho no museu, com meus estudos... Mas isso nunca foi motivo suficiente para deixar de escrever. E para variar, não deixei. Acontece que tenho usado mais o lápis e o papel e agora há uma fila de coisas para compartilhar à espera daquele tempo mais difícil: o momento em que eu preciso me reler para finalmente escrever.
Passei um tempo organizando meus textos para uma apresentação “mais profissional” – se é que eu sou capaz de separar o profissional e o pessoal quando o assunto é leitura ou livro.
Abri uma nova página (ritabraga.wordpress.com), mas pretendo manter o Asa Palavra como  espaço “meio miscelânea”  de me mostrar como leitora.
Hoje especialmente quero compartilhar pequenos comentários sobre alguns livros de literatura infantil e juvenil que me comoveram bastante (coloquei vários outros no wordpress). Acho até que um deles, o de Lygia Bojunga, teve em mim um efeito de certa forma “avassalador”.
Eu nasci em 1975 e A bolsa amarela é de 1976. Passei pelas angústias da pequena Raquel e mais uma vez me vi criança, “engordando minha vontade de ser escritora”.  Conheci esses livros a partir do Projeto Patrimônio e Leitura oferecido pelo IPHAN que tem sugestões excelentes.
Se o texto de hoje para o blog é tão breve, é porque tenho outros escritos, berrando como “filhinhos recém-nascidos” esperando meu retorno.
Compartilho as dicas e desejo boa leitura a todos!


A bolsa amarela
BOJUNGA, Lygia. Ilust. Marie Louise Nery. 33ªed. Rio de Janeiro: Casa Lygia Bojunga, 2004.
Um lugar para guardar nossas vontades e nossas fantasias. Um espaço em que é possível cultivar a criatividade e alimentar-se dela para enfrentar as angústias mais íntimas. A personagem Raquel é uma menina em pleno embate com suas vontades mais secretas: a vontade de crescer, a vontade de ter nascido menino e a vontade de escrever. Como são vontades sem solução, o jeito foi aproveitar uma bolsa amarela  para guardar tudo ali, e levá-las escondidas pra lá e pra cá. Com o tempo ela vai colecionando objetos e personagens que lhe contam histórias pessoais e lhe ensinam sobre a vida. O livro de 1976, repleto de elementos fantásticos, com falares da época e cenas bem humoradas, foi escrito num tempo em que era mais comum se ouvir a premissa de que “criança não tem vontades”. Além de ser uma divertida aventura que comprova o contrário, é um estimulante convite à escrita e à relação mais atenta com os acasos e os detalhes do cotidiano do leitor.



Bisa Bia, Bisa Bel.
MACHADO, Ana Maria. Ilus. Mariana Newlands. São Paulo: Salamandra, 2007, 80 p.
“[...] a gente podia contar a história de Bisa Bia assim: dentro do quarto de minha mãe tinha um armário, dentro do armário tinha uma gaveta, dentro da gaveta tinha um envelope, dentro do envelope tinha um monte de retratos, dentro de um retrato tinha Bisa Bia.” A imagem é de uma criança de outro tempo, com roupas e penteado muito diferentes daqueles que a personagem Isabel usava ou estava acostumada a ver entre suas colegas na escola. Por seu encantamento e surpresa ao conhecer a bisavó quando menina, algo mágico acontece e as duas se tornam amigas inseparáveis, trocando experiências e percepções sobre as transformações do mundo ao longo dos anos. O livro premiado de Ana Maria Machado vem emocionando multidões desde a primeira edição em 1982 e, com doçura e criatividade, traz à pauta temas como memória, infância, gênero, direitos, política e muito mais. Além das bem humoradas conversas que levam o leitor em uma viagem ao passado, há personagens que apontam delicadamente as dores do exílio durante a ditadura no Brasil e convidam as crianças a pensar o futuro. A literatura de Ana Maria Machado garante surpresas, sorrisos e reflexões para o leitor, sobretudo, porque em suas várias camadas também guarda o compromisso com transformações urgentes nos costumes, na compreensão da dinâmica da cultura e da vida em sociedade.


As cocadas.
CORALINA, Cora. Ilust. Alê Abreu. São Paulo: Global, 2007, 24 p.
A memória afetiva e a sensorial se mesclam na narrativa de Cora Coralina. As palavras da menina “prestimosa e trabalhadeira” vêm com peso e voz de quem se volta para o tempo passado, num olhar demorado por cima do próprio ombro. A cena que um dia foi cotidiana (o fazer doces em casa) chega ao leitor em cheiros, formas e cores das cocadas temperadas com canela. Com a mesma intensidade compartilhamos o desejo de degustá-las e um remorso remoído no tempo. O livro é breve, mas pode despertar conversas sobre os saberes populares, as diferenças sociais e, principalmente, sobre as consequências de pequenos atos ou pequenas omissões. Por experiência, vale registrar que o livro é um estopim de histórias pessoais. Sempre há alguém que se lembre de um episódio similar ao ouvir a história. 















sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Flashes do presente no passado




“Bem sabes o que é a dor de escrever. Essa tortura que o papel virgem põe n’alma de um escritor incipiente. É uma angústia intraduzível, essa de que fico possuído à vista do material para a escrita. As coisas vêm ao cérebro, vemo-las bem, arquitetamos a frase, e quando a tinta escreve pela pauta afora – oh! que dor! – não somos mais nós que escrevemos, é o Pelino Guedes”.
 (Diário íntimo, 1905, sem data).


“Há meses inaugurou-se a iluminação elétrica em uma qualquer cidade. Para evitar desastres pessoais, o chefe da usina mandou pôr o seguinte aviso junto aos dínamos de alta voltagem, os transformadores etc.:
‘Perigo! Quem tocar nestes fios cairá fulminado. Pena de prisão e multa para os contraventores.’
Fazer um conto. Pelino, quando vê um sujeito ser fulminado pelo fio elétrico...” 
(Diário íntimo, 1910, sem data).

Acaba de ser lançado o livro Lima Barreto: uma autobiografia literária (Editora 34, 2012). O volume organizado por Antonio Arnoni Prado, professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, mescla vários escritos de ficção e não ficção, com notas explicativas para identificar personagens e situações.
O primeiro trecho acima é da carta de Lima Barreto a Mário Galvão – repórter do Diário do Comércio que viria a ser um dos fundadores da Associação Brasileira da Imprensa. Essas palavras foram escritas em 16 de novembro de 1905 e são um exemplo de como a leitura nos faz imergir em contextos, sentimentos e expressões que beiram os limites da linguagem. A figura de Pelino Guedes, uma espécie de “símbolo da intolerância e da gramatiquice prepotente”, como se vê, aparece em outros momentos e é um dos muitos elos entre a vida pessoal e a obra de Lima Barreto. Prado comenta que depois de um desentendimento com Pelino – à época, Diretor Geral da Justiça do Rio de Janeiro – esse homem se tornou uma referência convertida em personagens como o Xisto Beldroegas, do romance Gonzaga de Sá (1919), e o ministro J. F. Brochado, de Numa e Ninfa (1915).
Não seria o primeiro episódio em que a relação entre vida e obra é especialmente notável no caso de Lima Barreto.  Aliás, outros livros recentes reforçam essa peculiaridade. Entre eles: Contos completos de Lima Barreto, (Companhia das Letras, 2010), com organização de Lilia Moritz Schwarcz; e o volume Lima Barreto, da coleção Retratos do Brasil Negro (Selo Negro, 2011), no qual Luiz Silva (Cuti) mostra a atualidade dos problemas apontados e enfrentados pelo escritor no início do século XX.
 As edições acima e o lançamento da “autobiografia literária” reafirmam a experiência de que um bom livro leva a outro, sem qualquer necessidade de ordem cronológica. São leituras que despertam ou intensificam a vontade de saber mais. De conhecer e de mais uma vez reconhecer o artista, o intelectual, o cidadão crítico, uma mente libertária tantas vezes rechaçada pelo preconceito.

“Nunca me meti em política, isto é, o que se chama política no Brasil. Para mim a política, conforme Bossuet, tem por fim tornar a vida cômoda e os povos felizes. Desde menino,  pobre e oprimido,  vejo a ‘política’ do Brasil ser justamente o contrário. Ela tende para tornar a vida incômoda e os povos infelizes. Todas as medidas de que os políticos lançam mão são nesse intuito. [...]”  
(Da crônica “Palavras dum simples”, 1922 – em Marginália, 1953).

“Quando me julgo – nada valho; quando me comparo sou grande.” 
(Diário íntimo, 1905, sem dataç 26/04/1904; 01/01/1905)
A estrutura de nove capítulos, do “autorretrato” aos “outros retratos”, passa por temas como o narrador, os personagens, a crítica, a arte, a morte e a penitência, entre outros. Chama a atenção o caráter de bricolagem da obra que, com delicadeza e discrição,  faz com que o leitor se sinta, ele mesmo, um curioso revirando papéis de um baú alheio. Nessa colcha de retalhos, quase nem se repara o quanto nos deixamos conduzir pelo olhar do organizador.  Ao nos confrontarmos com preciosidades do Diário íntimo – por vezes palavras soltas, a intenção de um escrito – ouvimos em alguma medida sua voz embargada, mas, logo adiante, a autocrítica, a consciência e a perspicácia diante de pessoas do seu tempo.
Cabe destacar, quanto a isso, as palavras de João Antônio, também citadas na autobiografia: “Lima Barreto, a bem dizer, deu de ombros à própria glória literária. Não pensou nela. Escrevia por desafogo. Romances, contos e crônicas que publicou,  mantiveram caráter de protesto. Contra as rotinas, os preconceitos, contra a tolice, as frivolidades, contra o ramerrão, contra as normas e regras, que só o tempo consagrara.  Não houve nas letras brasileiras, escritor tão revolucionário” (Jornal do Brasil, 17 de junho de 1978).
A lista de comentários sobre o autor traz a voz de outras personalidades como Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado, esses, aliás, valorizando a ousada perspectiva histórica e social adotada desde as primeiras publicações. Nomes como Antonio Candido, Alfredo Bosi e outros também estão registrados entre os comentaristas.
Talvez seja oportuno para lembrar as palavras de João Antonio, na apresentação de um livro de crônicas escolhidas (Ática,1995): “apesar de algumas tentativas sérias de redescobrimento de Lima Barreto [...] há sempre pontos a ressaltar na importância do mulato de Todos os Santos, pois vão sendo esquecidos novamente, logo após esses “redescobrimentos”. [...]”
“Não tenho editor, não tenho jornais, não tenho nada. O maior desalento me invade. Tenho sinistros pensamentos. Despeço-me de um por um dos meus sonhos.” 
(Diário íntimo, 20/04/1914)
O fato é que após 90 anos de sua morte, cá estamos lendo até seus mais íntimos lamentos. Suas reivindicações e revoltas continuam atuais, bem como suas esperanças e seu exemplo de compromisso com a verdade.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Autorretratos para leitores e não-leitores



Pesquisa mostra que metade da população brasileira não lê e apenas 2% dos professores dedicam seu tempo livre à leitura. Mesmo assim, há esperanças.








De acordo com os dados mais recentes da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, cujo terceiro volume foi lançado em agosto, apenas 7% dos leitores levam em conta críticas e resenhas como fatores que mais influenciam na leitura de um livro. Eu poderia desistir de escrever este texto diante desse dado. Mas como as estatísticas têm suas sutilezas, prefiro me apegar aos 29% que levam em conta “dicas de outras pessoas”. Mesmo diante de números preocupantes e dignos de manchetes na imprensa, como a constatação de que apenas metade da população se declara leitora, como se sabe, quem lê as letras miúdas acaba enxergando outros aspectos que não costumam estar tão explícitos nas bancas de jornal. Por analogia, quem ler Retratos da Leitura no Brasil 3 verá que os números são apenas a ponta do iceberg.
Desta vez, o período de aplicação foi entre os meses de junho e julho de 2011 com o total de 5.012 entrevistados. Segundo a organizadora deste volume, Zoara Failla   socióloga da Unesp, gerente de projetos do Instituto Pró-livro e coordenadora técnica da pesquisa  de 2008 —, houve algumas inovações nos procedimentos com a intenção de obter respostas mais fidedignas. Por exemplo, desta vez optou-se por perguntar primeiro “quantos livros a pessoa leu nos últimos três meses” e somente depois “qual a importância da leitura” (questão que de alguma forma já induzia, ou pelo menos, “pressionava” o entrevistado na edição passada). Na edição atual, buscou-se também uma validação por meio de perguntas sobre o último livro lido, como: título, autor e se estaria no domicílio. A diagramação e estrutura geral da pesquisa publicada permitem a comparação com os números internacionais e com os dados de 2008.
Se há espaço para sugerir um acréscimo ou outra pesquisa, creio que talvez fosse interessante saber quantas pessoas “leem” esse documento no Brasil. Mais interessante ainda seria identificar o perfil do leitor da pesquisa, e, na medida do possível, como essa leitura se desdobra em suas ações na sociedade. A sugestão não é um capricho pessoal, mas consequência de algumas reflexões despertadas tanto nesta leitura quanto na do volume anterior. Que o quadro da educação é preocupante, que o letramento tem sido um desafio em todas as etapas da vida escolar, que grande parte da população entende a biblioteca como um espaço diretamente ligado à escola, são dados cujos números já podiam ser “intuídos” em qualquer conversa cotidiana. Afinal, quem não percebe que a imagem dos pais como motivadores perdeu espaço para o professor? Isso reflete, entre outras coisas, uma família mais dividida, com pouco tempo para o convívio afetivo (o que também tem consequências na construção dos laços sociais). 
Já o grande número de professores que não são leitores – ou, quando são,  denotam um repertório bastante limitado – também aterroriza, mas não necessariamente surpreende. Entre 145 professores entrevistados, apesar de 94 dizerem que “gostam muito de ler” e 38 dizerem que gostam “um pouco”, 73 não conseguiram citar nenhum autor. Entre os que citaram, ficou evidente a preferência por livros de “autoajuda”.  Outro número impressionante é que, dentro desse universo de 145 professores, apenas três declararam preferir dedicar seu tempo livre à leitura.
Antes que vozes se elevem maldizendo os “professores inaptos” como mediadores, cabe lembrar que muitos deles são aqueles mesmos alunos do passado, a quem foi atribuída a responsabilidade sobre o “futuro da nação”. Muitas vozes ainda hoje persistem nesse péssimo costume de atribuir a responsabilidade sempre ao outro e no futuro – sem qualquer compromisso de garantir o que as necessidades básicas para a formação intelectual e desenvolvimento humano se consolidem no presente. É importante destacar essa dívida histórica, e certamente a proposta de recolocá-la no centro do debate é uma das melhores inovações da edição.
Marcos Antonio Monteiro, Diretor-Presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, introduz os comentários usando as palavras de Antonio Candido como epígrafe. O texto citado é O Direito à Literatura, palestra do curso organizado pela Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, publicado pela primeira vez em 1989.  Mais de vinte anos depois, o trecho continua a sintetizar com força e clareza a emaranhada raiz do problema: “Em princípio, só numa sociedade igualitária os produtos literários poderão circular sem barreiras, e neste domínio a situação é particularmente dramática em países como o Brasil, onde a maioria da população é analfabeta, ou quase, e vive em condições que não permitem a margem de lazer indispensável à leitura [...] Pelo que sabemos, quando há um esforço real de igualitarização há aumento sensível do hábito de leitura, e portanto difusão crescente das obras.”
Claro que é importante saber quem são esses leitores e não-leitores. Identificar quais são os fatores sociais, econômicos e culturais que levam 75% dos entrevistados a não frequentar bibliotecas (e 33% alegarem que “nada os faria frequentar uma biblioteca”). Porém, as inquietações despertadas pelos dados e pelos comentários de especialistas, como Ana Maria Machado, Ezequiel Theodoro da Silva, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, José Castilho Marques Neto e tantos outros, ultrapassam limites que muitas vezes vinham erroneamente restringindo a discussão. Nas escolas, nas ruas, nos corredores, é muito comum ouvir dizer que a responsabilidade sobre a formação de leitores cabe à escola e, especialmente, ao professor de língua portuguesa. Ao trazer a pauta da leitura como “prática social” inerente ao exercício da cidadania, a publicação convoca “todos” a sair dos estereótipos e encarar os números da leitura de maneira menos idealizada. Há avanços e retrocessos. Paradigmas em transição que exigem novas estratégias. Tendências e transformações tecnológicas irreversíveis que exigem o empenho de toda a sociedade. Isso vai desde os gestos mais afetivos, como ler para os filhos, aos mais complexos do ponto de vista da implementação de políticas públicas que enfrentem o abismo da desigualdade social.
Como educadora, faço questão de recomendar o livro para pessoas de todas as áreas. Não se trata de concordar ou discordar dos dados, mas de reconhecer os embates e até as contradições. Se queremos de fato resolver o que alguns chamam de “crise da leitura”, o desafio é grande e urgente. Não pode ser adiado. Há que se convergir o envolvimento real de gregos e troianos, sem resmungos conformistas ou devaneios nostálgicos. Nesse sentido, como citação complementar à altura das palavras de Candido, recordo as de Maria Victória de Mesquita Benevides, em outro texto da Comissão de Justiça e Paz: ela diz que aprendeu com um amigo, ex-preso político e hoje um batalhador da cidadania ativa no Brasil e no mundo, que “se sopra um ventinho, temos que sair com a nossa pipa”. Então, se os dados dizem que temos 50% de não-leitores, é preciso despertar a ação efetiva entre os 50% leitores para reverter o quadro.


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ao velho Ray


Não havia tempo. Na verdade tudo começou exatamente quando o tempo havia acabado. Quem nunca adiou a vida até percebê-la por meio de uma morte, que atire a primeira pedra.
Os livros estavam por perto – apenas inacessíveis na bagunça da casa: caixas de sapatos, caixas de envelopes, caixas de textos fragmentados e fotocopiados na época da faculdade. Havia também inúmeras caixas e gavetas precavidamente cheias. Papéis avulsos, recortes, clipes, fitas, fios, quinquilharias a ocupar o espaço como estratégia sutil de autossabotagem: enquanto não houvesse lugar para guardar, enquanto não arrumasse tudo, não poderia escrever. Por isso também o computador vem sendo mantido no mais caótico abismo em subpastas... Se alguém ousasse procurar um velho esboço, um poema, um conto aparentemente inacabável, com certeza desistiria na metade do caminho. A impressora, mantida a distância de tudo, fazia parte desse complexo ambiente construído para sustentar seu mito mais intimista: não ter para não perder.
E aí, o que acontece? Um homem – há anos luz de distância – escreve um livro. Um título não notado em centenas de visitas a bibliotecas e livrarias, até que em um insignificante momento, chega às mãos da leitora. Não passava de uma edição barata, mas o subtítulo interno era convidativo: Fahrenheit 451 – a temperatura na qual o livro pega fogo e queima. Um livreto tão leve que foi comprado quase sem se fazer perceber. Cabia na bolsa... e foi em comodismo despretensioso que as primeiras palavras da epígrafe foram lidas: se te derem papel pautado, escreve de trás para frente. Ela não fez questão de saber quem era Juan Ramón Jiménez. Talvez nem tenha percebido que acabara de ultrapassar a fronteira. Entrava no campo de verdades minadas de Ray Bradbury, como quem apenas abre a janela para entrar ar – e se vê exposta ao mundo, sem proteção.
Isso tudo aconteceu em maio. Foram dois ou dez dias para ler o livro? Não sei. Aliás, desde a primeira parte já não conseguia distinguir entre ler e reler. Com o final de semestre chegando, nem tentou evitar que o livro adentrasse aos seus estudos, ensaios e comentários. No mesmo dia da decisão de conhecer mais aquele autor, o choque: o jornal dizendo “morre Ray Bradbury”, já era junho! E veio o sentimento de o ter deixado a vida inteira sozinho, sem com ele compartilhar seus mais tolos sonhos.
O caminho do outro livro – O zen e a arte da escrita – foi mais fácil e ao mesmo tempo ainda mais doloroso. Esse, sim, lhe havia sido oferecido alguns meses antes... Mas não havia tempo! Gavetas cheias, estantes desarrumadas, as caixas... As eternas caixas que mantinham a casa em constante clima de mudança. Ao ver o rosto bonachão do velho Ray no jornal, não sorriu. Quase pediu desculpas. Pediria se pudesse. Seu silêncio foi uma promessa de leitura, mas não esperava que o homem – já morto – fosse capaz de responder!
Não. Não anotei o dia. Ao ler o título do prefácio, já me apedrejava – lê-lo é sentir o espírito se agarrando aos ossos – a voz dele, mesmo traduzida em minha própria língua exigia algo mais difícil que esvaziar as gavetas, mais difícil do que organizar a casa, mais difícil do que ler pilhas e pilhas de artigos para a pesquisa acadêmica. Toda noite, o velho Ray, ao lado da cama dizia que a escolha era inadiável: escrever ou morrer. Pior: mesmo morrendo a cada noite, logo cedo ele continuava lá. Escrever ou escrever. Mais uma vez, eu – a leitora – perdia tempo pensando e ele puxava minha orelha. Lamentava episódios, arranhava angústias, ele parecia uma gravação contínua: escrever sem pensar – apenas escrever!
A cada página algo doía: o fascínio pelas pessoas idosas, o medo do que os outros pensam, a consciência da inutilidade... Até que ele, do alto de sua sabedoria impressa e editada em tantas línguas, me disse algo remoído muito antes de eu nascer: decidi, muito tarde num dia, que nunca desistiria do meu primeiro sonho. Que raiva! Qual era o meu primeiro sonho? Ser escritora?!
Quando vi, já estava no escuro porão. Quando eu era criança – na verdade até a adolescência – escrevi cartas ingênuas ao meu irmão morto, que nem sequer conheci. Eu me dirigia a ele como a um anjo da guarda. Muitas vezes pedi que ele me buscasse  e me tirasse daquela casa, que me ajudasse com essa tarefa difícil que é tornar-se nada. E somente agora percebo que, quando meu irmão morreu, ele não virou “nada” – ele se tornou uma ideia, um norte, um apoio que me fez começar a escrever. Que dizer dos outros irmãos, jamais conhecidos em vida: Van Gogh, Oscar Wilde, Drummond, Mário de Andrade, Quintana, Clarice, Virgínia, Anne Frank...!? A lista de meus companheiros é infinita. A partir dela construí a noção de transcendência (ou o mais próximo que alcancei de uma crença ou religiosidade). Nos momentos mais sombrios eu acreditava na morte como uma espécie de portal para uma convenção literária. A eternidade era o único tempo possível para encontrar todos, finalmente, conversar, ouvir suas respostas depois de minhas perguntas serem feitas (sim, porque muitas vezes me chateio quando nos livros as respostas vêm adiantadas e mal tenho tempo de tecer a pergunta).
Então. Onde eu estava? Ah... claro. Não estava. A vida foi sempre adiar – escrever aos mortos, talvez por covardia, escrever para não correr o risco de alguém me responder. Mas ele, de repente, anos antes de eu nascer, respondeu.
Disse o que fazer: se quero ser escritora – preciso escrever. Se o objetivo fosse viver de escrever, tudo seria infinitamente mais complicado. Mas não me permito sequer esse sonho. Quero apenas escrever.
Ok, ok... não sei se estou fazendo certo. Apenas vomitei essas palavras e agora espero que ele me deixe dormir. Olho a data e penso em outros fantasmas mais familiares. Hoje seria o aniversário da minha bisavó Lídia – vó Lídia. Sei tão pouco dela. Lembro-me do seu sorriso. Lembro-me da grandeza do seu silêncio quando saímos de madrugada para uma viagem e vimos juntas a lua cheia, marcada por um aro colorido. Ela sorriu em silêncio, assentindo com a cabeça (nunca se sabe qual cena vai ficar para sempre na sua memória). Além desse dia, sei apenas das estampas coloridas de flores pequenas em seus conjuntos de saia e camisa, da trança no cabelo branco e do milagre adocicado do jiló frito que somente ela sabia fazer. Algo me diz que minha avó não lia, mas guardo alguma fé de que ela estará presente naquela eterna convenção. 

São Paulo, 03 de setembro de 2012.
R.B.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Divagação sobre a leitura na ordem natural das coisas


Ícaro - R.B.
É comum ouvir por aí que o tempo parece andar mais depressa, que os dias andam cada vez mais repletos de afazeres e que aquele tal de “ócio criativo” é um luxo, ao qual poucos têm condições de se dedicar (e entre esses poucos, raríssimos, de fato, se dispõem a fazê-lo).
No meio dessa correria percebi que meu blog praticamente órfão há mais de 4 meses! Ando ocupada, lendo e escrevendo, sim, mas por outros motivos e para outros fins. É um esforço que faço hoje para pertencer a uma categoria outra, não citada acima: “a dos que não dispõem de tempo, mas dão um jeito de criar e escrever”. 
Sempre me deparo com questões muito parecidas, pois ando obcecada pelo tema leitura, e no caminho de minha pesquisa encontro preciosidades que não me deixariam dormir sem registrar um pensamento. Uma delas, foi a citação de Frederic Litto[1] em seu blog sobre “tecnologia educacional” para ilustrar a resistência dos profissionais a incorporar os recursos digitais em seus métodos pedagógicos.
“Qualquer coisa que já estiver no mundo quando você nascer é normal e ordinária e simplesmente uma parte da maneira pela qual o mundo funciona. Qualquer coisa inventada no período em que você tem de quinze a trinta e cinco anos é nova, excitante e revolucionária, e provavelmente lhe oferece a oportunidade de seguir uma carreira nela. Qualquer coisa inventada depois que você chegou a trinta e cinco anos é contra a ordem natural das coisas.”

Esse trecho de O guia do mochileiro das Galáxias, além de me despertar a curiosidade sobre o livro, me fez ver o quanto eu mesma faço parte de uma geração que tem dificuldades com os recursos digitais. Mais do que de manuseá-los como ferramentas, percebo em mim um desconforto, na maioria das vezes não compartilhado por amigos e colegas de trabalho sempre tão atentos a tudo que acontece na rede – sejam notícias, debates, frivolidades, ou acontecimentos (para eles) potencialmente imperdíveis, expostos em diversas páginas pessoais. A primeira impressão que posso ter é a de que há algo muito errado comigo... parece óbvio. Sou antissocial, reacionária, retrógrada... (Ainda não vi ninguém usar estes termos em relação a mim... mas se os usaram, eu também não teria como sabê-lo, pois estou por fora de todos esses espaços de discussão).
Depois, lendo mais uma vez Jorge Larrosa Bondía, desta vez, aliás, em suas autocitações, encontrei mais um excerto precioso:
“[...] a maioria de nós vive encurralada, em espaços universitários postos a serviço do governo e completamente mercantilizados. Como se fosse pouco, o imperativo dos dispositivos de ‘pesquisa’ e das constrições da ‘carreira acadêmica’ nos obrigam a escrever, e a publicar, de uma forma completamente absurda, inútil e enlouquecida. Escrever (e ler) se converteram em práticas espúrias e mercenárias encaminhadas à produção de textos orientados, sobretudo, aos comitês de avaliação e aos mecanismos financiadores de projetos de pesquisa. As formas institucionalizadas de escrever expulsam os que têm língua, os que pensam o que dizem e os que não se acomodam às formas coletivas e gregárias de trabalho que se nos impõem. Nesta época de indigência deveria bastar ler. E, se trabalhamos na universidade, deveria bastar transmitir o que lemos. Deveria bastar dar a ler. E tratar de propiciar a leitura, a escritura, a conversação e o pensamento. Como naqueles tempos em que ainda se estudava.” [2]
Estou em dúvida: talvez hoje eu tenha acordado nostálgica, pensando num tempo que para mim nem sequer existiu... Um tempo de “total” disponibilidade para escrever, pensar, produzir, sem que para isso eu tivesse que sacrificar meu descanso ou atrasar as minhas “obrigações”.
Por outro lado, o texto de hoje também vem na contramão da nostalgia. É movido pela pressa ou pela pressão de “Oh! Meu Deus! O blog está lá e não publiquei nada...!” É uma pressão estranha, pois essa página tem pouco mais que uma dúzia de leitores e, entre eles, alguns convivem e conversam comigo. Pouquíssimas vezes comentamos pessoalmente nossas leituras (isso não chega a ser bom nem ruim – apenas comprova que a tal pressão por escrever não vem de fora. É sem motivo aparente, pois eu até consideraria justa se fosse uma pressão dos leitores).
Percebo que nem meu leitor imaginário (a mais compreensiva das pessoas – depois do meu terapeuta, claro...) chegaria ao ponto de me cobrar algo escrito, ainda mais assim, "pra ontem". Sou eu mesma.
Então, por que me apresso ao ver o blog abandonado?
Por outro lado, por que tantas vezes, mesmo vendo-o assim não escrevo?
...
Percebi que só reconheço o que escrevo respeitando meu próprio ritmo. E como tenho 36 anos, desconfio que esteja entrando na categoria que estranha o mundo novo. Eu até tenho tentado me adaptar a essa “nova ordem natural das coisas”, mas é difícil.
...
Um dia desses, sabendo dos meus rabiscos expostos em outra página, alguém me perguntou se me realizo mais escrevendo ou desenhando. Naquele momento me safei da pergunta com um cômodo “depende...” como quem diz “às vezes, um, outras vezes, outro...” Assim como meus raros leitores, a pessoa ficou satisfeita com a resposta. Eu não.
Fiquei matutando sobre isso até encontrar aquela fala de Larrosa Bondía: “deveria bastar transmitir o que lemos. Deveria bastar dar a ler.” Acho que entre desenhar e escrever, me realizo lendo. Especialmente nos raros dias de folga, quando posso acordar devagar, sem relógio, sem hora marcada... dias em que me dou ao luxo de ler poesia no desjejum e até ficar na cama, lendo até pegar no sono de novo. Sem obrigação, sem imperativos... Apenas por gosto.
E, no entanto, nasce naturalmente nesse “ler à toa” a minha necessidade profunda de escrever, e de me dar a ler.  Escrevo, leio, escrevo, e assim, a cada dia, meu mundo sempre começa de novo.





[1] ADAMS, Douglas. O guia do mochileiro das galáxias. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.   Citado por  Frederic Litto no comentário sobre tecnologia educacional,  no blog do jornal O Estado de São Paulo (http://blogs.estadao.com.br/rolando-na-rede/), em 03/07/2011, às 17h 52min. Acesso em 09/07/2012, às 13h45.
[2] BONDÍA, Jorge Larrosa. “Palavras desde o limbo. Notas para outra pesquisa na Educação ou, talvez, para outra coisa que não a pesquisa na Educação”. In: Revista Teias. V.13, n. 27, p.289. Neste texto o autor comenta uma autocitação retirada de seu livro de 2010, Ferido de realidade. Notas sobre as linguagens da experiência, p.115.