Muitas vezes deixo de escrever, não por não ter o que dizer, mas por não encontrar – nem entre leituras e escritos – as palavras que preciso naquele momento exato. Esta tolice cria um círculo vicioso: por procurar a palavra, não escrevo. Por esperar o momento, não publico. No entanto, conforta-me a persistência deste ímpeto, desta necessidade vital de dizer não-sei-o-quê, nem sei a quem. Há algo certo? Que o texto se sustente na exata medida de seu próprio corpo.(Rita Braga)
sábado, 18 de dezembro de 2010
Memória Vegetal
sábado, 11 de dezembro de 2010
Cultura Letrada - literatura e leitura
domingo, 5 de dezembro de 2010
Crepúsculo dos símbolos*
domingo, 21 de novembro de 2010
Alberto Manguel em São Paulo
– Até hoje este livro “nunca” foi lido?
E o bibliotecário, após verificá-lo e registrar o empréstimo, o entrega com benevolência:
– Pois é! Nós o compramos especialmente para você!
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Muito além dos e-books*
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Manuscrito a Felipa*
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Saramago – mais humano e mais jovem
O que resta dizer acerca da morte de José Saramago? A imprensa, mesmo com revistas e cadernos de finais de semana completamente fechados, conseguiu se desdobrar em edições especiais recheadas de depoimentos de críticos e amigos deste escritor que há muito já era internacionalmente reconhecido como ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, com o livro Memorial do convento em 1998.
Em meio aos comentários sobre a Copa do Mundo em lotações, filas e bares, havia, sim, quem falasse “Você viu...? O Saramago morreu...”
Sabe-se que a melhor homenagem é convidar o público a ler seus livros. Sejam eles obras polêmicas como o Evangelho Segundo Jesus Cristo, mostrando um menino Jesus humano, que “chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse único e mesmo motivo (...)”, ou como seu Conto da Ilha Desconhecida, com a corajosa viagem por caminhos que nenhum mapa pode registrar. No entanto, apenas indicar seus livros não parecerá suficiente para quem se lembra vê-lo e ouvi-lo pessoalmente, mesmo que em eventos como o lançamento do livro A viagem do elefante, em 2008, no Sesc Pinheiros.
Quem esteve lá deve se lembrar que tal experiência é mais do que estar diante de um autor renomado. Trata-se de uma oportunidade para abrir os olhos diante do que é óbvio, mas tantas vezes ignorado – há sempre um ser humano por trás de um objeto-livro.
Naquele evento, todos viram seu esforço para chegar ao palco com a saúde debilitada aos 86 anos. Ouviram suas considerações sobre as vantagens de envelhecer, quando se toma em conta qual seria a única alternativa possível; ouviram seus argumentos para destacar que foi um “milagre da ciência” ele ter escapado da morte em fevereiro daquele ano... E que, é claro, Deus não tinha nada a ver com isso...
Esses detalhes, ainda que até certo ponto sentimentais, são importantes, porque naquela noite houve quem o fotografasse, filmasse na tela do celular, e, principalmente, centenas de pessoas comprando o livro à espera de um desejado autógrafo.
Deve haver quem se lembre também do olhar interrogativo de Saramago quando, após tecer seus comentários e conselhos aos jovens escritores, pronunciou a palavra “finalmente...” para concluir a palestra pois houve um alvoroço na plateia. Em todas as fileiras, pessoas se levantando para correr até a fila no saguão à espera do “autógrafo” – mas se todos sabiam de seu estado de saúde e do quanto essa tarefa seria desgastante (aliás, houve nos jornais comentários acerca de seu esforço para atender a tal demanda na noite citada e em outras ocasiões), fica ainda hoje a pergunta: será que aquelas pessoas viram mesmo o homem por trás do livro?
O fato é que todos testemunharam a capacidade daquele homem ao arrancar suspiros da plateia. Isso aconteceu quando, além de dizer que a esposa Pilar o havia segurado pelo colarinho para que ele não morresse – e que na verdade somente por isso ele não se foi... –, acrescentou uma declaração de amor:
“Tenho oitenta e seis anos, mas se eu tivesse morrido um dia antes de conhecer Pilar, teria morrido muito mais velho do que sou hoje.”
Enfim, recentemente comentaram também outra declaração à esposa:
“Eu tenho pena de morrer... A vida é tão bonita.”
...
Nós também temos, José... Então, deixaremos você vivo, conosco, sempre.
*Texto escrito em 15/07/2010.
domingo, 25 de julho de 2010
Dia do Escritor
O que se faz nesta data dedicada ao escritor?
Hoje em dia associam a Páscoa com a troca chocolates, assim como panetones e presentes já estão incorporados à ideia de Natal. Mas entre centenas de efemérides cotidianas, o dia do escritor chamou minha atenção.
Talvez as pessoas comprem mais livros... Não, claro que não! Não estamos em 15 de março – o dia do consumidor. Deve-se ler, ler e ler... Certo. Porém, o que restará para o dia do Leitor, que é dia 7 de janeiro?
Acabo de saber da data pelo Almanaque Brasil e fiquei quieta, ansiosa e instigada. Para que se inventaria isso se não para ter com os homenageados algum tipo de atitude especial?
De imediato penso que a maior alegria do escritor é ser lido; mas isso basta?
Além do mais, ai que difícil escolher: Rosa, Graciliano, Machado, Oscar Wilde, Drummond... ops! Perdoem-me se por impulso comecei a embrenhar-me no ramo dos poetas, que estão distintamente reservados para 20 de outubro.
Se alguém me explicasse de maneira clara, eu seria grata. Tudo me parece tão vago... Pergunto, por exemplo, se haverá uma data específica para as escritoras ou deverei incluir Clarice, Virgínia, Raquel e tantas outras neste simulacro masculino para tão complexa realidade?
Afinal, é tão complicado definir o que é um escritor? – Nem entro nas diferenças entre o bom e o mau escritor. Parto de uma questão mais básica: quando homenageiam “o escritor”, referem-se a autores de obras literárias ou aos responsáveis por todo e qualquer tipo de texto... Na verdade o que quero saber é se pelo menos nesta data valem aqueles “arremedos” que mantenho engasgados no limbo da gaveta. Outra dúvida é, na falta de um Rilke, hoje em dia, há alguém disposto a dizer se você é ou não é um escritor? Como é que se descobre se já pode comemorar a data ou se é melhor marcar na folhinha mais um ano de prazo para a meta, às vezes, aparentemente inalcançável. Há saída? Ou melhor, há entrada para este time? E, se há, que linha tênue é esta sobre a qual bambeiam os autores dos textos não publicados?
...
Sei que o dia de São Lucas – aquele mesmo, o evangelista – é o dia do pintor. Ainda não estou inteirada se há um padroeiro a quem se apele para ver as letras impressas num volume com capa, mesmo porque, com todo respeito a São Francisco de Salles, não dá para esquecer que o que tornou o cara famoso mesmo foi o fato de enfrentar os obstáculos escrevendo cartas.
Não sei. Realmente não sei... E nem sei se é preciso saber algo!
Enquanto isso, por garantia, não custa acender uma vela a Saramago... Nem que seja para alumiar a mesa enquanto se pega o velho caderno para voltar a escrever.
Abraços a todos.
Rita Braga
* Voltei repleta de perguntas... Para começar, ou "recomeçar", exponho um texto que acabo de enviar aos colegas do Recanto das Letras. Já era hora... e a data não poderia passar em branco. Além disso, senti vontade de mostrar em desenho algumas das pequenas belezas que gosto de retratar.